Marinha cria esquadrão de drones táticos de reconhecimento e ataque

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A Marinha do Brasil vai ativar nas próximas semanas o 1º esquadrão de drones táticos de reconhecimento e ataque do Corpo de Fuzileiros Navais.

O plano foi anunciado nesta 2ª feira (20.out.2025), durante a abertura do 3º Simpósio de Defesa e Segurança Internacional, no Rio de Janeiro.

No evento, a Marinha confirmou a realização do 1º Campeonato de Drones Militares, marcado para 27 de novembro, que reunirá equipes de oficiais e praças em provas práticas de tecnologia aplicada à defesa.

O simpósio, organizado pela Marinha em parceria com o King’s College de Londres, discute o impacto da inteligência artificial e das armas autônomas nas operações militares —e os dilemas éticos e orçamentários que acompanham essa transformação.

MÁQUINAS AUTÔNOMAS

Em seu discurso de abertura, o almirante Carlos Chagas, comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais, afirmou que o emprego de sistemas não tripulados já é realidade dentro das Forças Armadas.

“Antigamente, treinávamos nossos militares para operar as máquinas. Agora, precisamos ensiná-los a operar com a máquina”, disse. “A máquina autônoma já está lado a lado com o ser humano, realizando tarefas semelhantes e complementares.”

Segundo Chagas, a Marinha desenvolve atualmente drones de ataque do tipo kamikaze, mísseis expedicionários e robôs autônomos, em projetos financiados pelo Instituto de Tecnologia e Inovação do Corpo de Fuzileiros Navais. 

O comandante ressaltou que o uso de inteligência artificial é uma das linhas de pesquisa prioritárias da Marinha. “Criamos o primeiro MBA em inteligência artificial aplicada a sistemas militares, que já está no final da segunda edição. Também temos dois programas de pós-graduação em IA voltados a oficiais e praças”, disse.

Para o almirante, a adoção dessas tecnologias é inevitável. “A salvaguarda dos interesses nacionais exige poder dissuasório efetivo e permanente. É por isso que este simpósio é tão importante: busca incutir uma mentalidade de defesa e cooperação entre as Forças Armadas, a academia e a indústria”, declarou.

Apesar dos planos de modernização, Chagas afirmou que a falta de recursos é o principal obstáculo para que as inovações tecnológicas avancem na mesma velocidade de outros países.

“As Forças Armadas brasileiras enfrentam forte carência de recursos. Tivemos, nos últimos 11 anos, uma queda de 1,4% para 1% do PIB em gastos de defesa. Se olharmos o restante do mundo, já passa de 2%. Isso é extremamente preocupante, pois em defesa, qualquer imprevisibilidade compromete o futuro”, disse.

DILEMAS ÉTICOS

O avanço da IA e dos sistemas não tripulados traz também desafios éticos e jurídicos. “O emprego desses sistemas, em que não há supervisão humana direta no ciclo de decisão, oferece vantagens operacionais, mas suscita sérios questionamentos éticos e jurídicos”, disse o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Arthur Fernando Bettega Corrêa. 

Ele comparou o cenário com guerras recentes, como a da Ucrânia, onde o uso massivo de drones tem alterado a lógica do combate.

“No Mar Negro, uma marinha poderosa como a russa perdeu sua liberdade de ação e reduziu significativamente seu poder de combate devido a esses artefatos, muitos ainda experimentais”, afirmou.

Segundo o almirante, o Brasil não pode ignorar essa realidade. “Qualquer força militar que não dominar essas ferramentas estará em clara desvantagem”, disse. “Vivemos um período de intensificação de tensões e rearmamento. O país deve fortalecer suas capacidades militares e investir em ciência e inovação, reduzindo a dependência externa, não apenas material, mas também conceitual.”

O 3º Simpósio de Defesa e Segurança Internacional –realizado no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, na Ilha do Governador (RJ)– vai até 3ª feira (21.out). As discussões incluem direito internacional, ética em armas autônomas e o impacto da inteligência artificial nas operações navais.


A repórter Thayz Guimarães viajou ao Rio de Janeiro a convite da organização do 3º Simpósio de Defesa e Segurança Internacional.

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